Mostrando postagens com marcador reflex. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador reflex. Mostrar todas as postagens
Silvio Santos, obrigada.
Agarre as oportunidades - mas não todas
A gente vive num mercado de trabalho que nos faz engolir que “temos que agarrar as oportunidades”. Mas o que ninguém fala é que nem todas as oportunidades realmente valem a pena. A questão aqui não é sair ou não da zona de conforto, é avaliar de forma inteligente as propostas que são apresentadas para nós. Nem toda oportunidade é boa.
O que dizer de uma oportunidade que surgiu para mim um tempo atrás, para ganhar praticamente o mesmo salário, numa operação maior, onde eu talvez tivesse mais oportunidades de crescimento (sem garantias disso) e também mais trabalho, mas que eu provavelmente teria que trabalhar 6x1 (atualmente trabalho 5x2), e trabalhando multiskill (atendendo mais de um canal ao mesmo tempo), sendo um deles um canal que eu não gosto de trabalhar? Era uma oportunidade que valia a pena? Ganhar a mesma coisa para trabalhar mais, com algo que eu não me sinto muito confortável e ainda perder um dia de folga, só pela possibilidade remota de crescimento?
Ou trabalhar com algo que eu sempre sonhei, mas com um salário menor, sendo que o que eu preciso no momento é justamente ganhar mais para conseguir ajudar a cobrir todas as despesas de casa. Não tenho pais ricos que me sustentam enquanto eu me aventuro a conquistar meus sonhos. Tenho que fazer sacrifícios, por vezes tenho que deixar de lado meus desejos para pagar as contas no fim do mês. E mais, minha realidade ainda é bem confortável perto da realidade de milhões de pessoas neste país, que têm que se virar e muito para poder comer arroz e feijão, que acabaram endividados porque perderam seus empregos, ou porque o preço das coisas subiu tanto que não conseguiram manter o orçamento em dia.
Entre a oportunidade de um salário mínimo que mal paga as contas e a incerteza do empreendimento, muitas pessoas têm que optar pelos dois, para tentar sobreviver. O problema é que tem gente dentro das empresas que acha que só porque paga mais de um salário mínimo, a gente é obrigado a aceitar a “oportunidade”, afinal, é algo raro hoje em dia, ainda mais em tempos de pandemia. Salários cada vez menores com mais exigências, enquanto o custo de vida só aumenta. Isso é uma afronta aos profissionais que estudam e se especializam para ganhar um salário aquém do que realmente deveriam.
Quais oportunidades valem realmente a pena para que você as agarre? Pense, avalie, não se sinta na obrigação de aceitar tudo o que cai no seu colo. Se você achar que é bom para você, aceite. Se não, recuse. Não agarre todas as oportunidades, algumas delas são apenas ciladas.
O dia em que eu poderia ter morrido (mas não morri)
Era uma noite de sábado, 13 de março. Estávamos de Uber, meu esposo e eu. Tínhamos acabado de deixar a filha dele na casa da mãe dela, e estávamos voltando para casa. No meio do caminho, o motorista nos disse que não estava se sentindo bem. Ficamos preocupados, perguntamos se ele queria que a gente descesse. Ele disse que não, que ele só precisava respirar um pouco. Que poderia ser a máscara, e como meu esposo e ele estavam conversando bastante, poderia ser só uma falta de ar.
Seguimos viagem. A tensão era quase palpável. O motorista passou boa parte do tempo se desculpando. Até que chegamos na Rodovia dos Imigrantes. Ele parou o carro próximo da entrada onde deveríamos seguir para chegar em casa. Estávamos muito perto, mas ele não estava bem. Ele nos perguntou se algum de nós dirigia, respondemos que não. E o motorista começou a convulsionar ali, na nossa frente.
Descemos do carro desesperados. Meu esposo começou a acenar para os carros que estavam passando, para pedir ajuda, para que alguém o ajudasse a tirar o rapaz do carro e fazer o procedimento que era necessário para estabilizá-lo. Eu, tremendo, tentei ligar para a emergência, ficando pendurada no telefone durante vários minutos, esperando alguém me atender. Enquanto isso, fui informando às pessoas que se aproximavam o que havia acontecido, para que pudessem ajudar. Pedi para alguém tentar ligar para a ambulância. Uma mulher perguntou sobre o celular do motorista que estava ali no chão, sendo estabilizado por meu esposo e um motoboy, e eu informei que estava dentro do carro.
Fomos até o carro, a mulher pegou o celular dele, e ligou para um dos números que estavam ali. Ela conseguiu falar com uma parente do rapaz, que pela providência divina, morava ali bem perto. Ele já havia acordado e estava sentado no chão, mas ainda atordoado. As pessoas que estavam ali para nos ajudar o levaram para a casa dos parentes dele. O casal que estava de carro e parou para nos ajudar ficou esperando ao lado do carro do motorista, para não o deixar sozinho.
O motorista, quando voltou a si, começou a chorar. Senti a dor dele, e o quanto ele se sentiu impotente naquele momento. Tudo o que pude sentir foi empatia e preocupação com ele. Meu marido e eu só queríamos ter a certeza de que ele ficaria bem. O tio dele, muito solícito, se ofereceu para nos levar até a porta de casa, mesmo que estivéssemos tão perto. Ele se preocupou com nossa segurança àquela hora da noite. Chegamos em casa sãos e salvos.
Passando por toda essa situação, refleti sobre alguns pontos. Um deles é como a nossa vida aqui é frágil. Se o rapaz não tivesse conseguido parar o carro antes de convulsionar, poderíamos ter sofrido um acidente bem grave, já que estávamos numa rodovia. Se tivéssemos descido naquele primeiro momento em que ele nos informou que não estava se sentindo bem, e ele tivesse passado mal sozinho, no meio da estrada, quem o ajudaria?
O segundo ponto que pensei foi em ser grata. Deus protegeu a nós três ali naquele carro. Ele capacitou o rapaz a parar o carro. Ele nos colocou ali para ajudá-lo naquele momento. Foi um tremendo susto, mas quando pensamos no primeiro ponto, entendemos que poderia ter sido pior. Agradeci por isso, e também por toda essa situação ter ocorrido sem a criança conosco. Ela poderia ficar traumatizada, e seria mais uma preocupação para nós. Além de, claro, Deus ter providenciado que os parentes dele morassem ali tão perto, ao ponto de conseguirmos socorrê-lo e entregá-lo a pessoas de confiança.
Terceiro ponto: todas as pessoas que pararam ali foram para nos ajudar. Não teve ninguém que ficou perto de nós apenas por curiosidade. Todos tentaram ajudar de alguma forma. O motoboy ajudou meu esposo a tirar o rapaz do carro e deitá-lo de lado. O casal que estava de carro nos ajudou a encostar o carro do Uber, e ficou cuidando do carro até que a situação se resolvesse. Os pedestres que estavam passando, ajudaram como podiam, inclusive um deles era uma enfermeira, que ajudou com os socorros. Alguns tentaram ajudar a ligar para a emergência. Uma mulher teve a ideia de pegar o celular do motorista e tentar ligar para algum dos contatos.
O que tudo isso me ensinou? A ser mais grata, a parar de reclamar tanto, a dar mais valor à minha vida. Admirei ainda mais o homem que escolhi para estar ao meu lado, que foi um verdadeiro herói para aquele rapaz. A acreditar um pouco mais na bondade das pessoas, que nos ajudaram tanto. A enxergar a mão de Deus nos protegendo e cuidando de nós. Ainda que tenha sido uma experiência que não desejo a ninguém, foi por meio dela que Deus trabalhou meu coração e se mostrou mais próximo, e por isso só tenho a agradecê-lo. Espero que compartilhar isso possa acalmar meu coração dessa situação que me deixou atônita, e que possa servir também como testemunho para vocês.
Bolsonaro x Lula: o apocalipse brasileiro
Imagem: O Brasilianista |
Com as recentes notícias de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve anuladas as condenações relacionadas à Operação Lava-Jato, o que mais se especula é a candidatura dele às eleições presidenciais em 2022. A crise no governo Bolsonaro está cada vez pior, mas mesmo assim o atual presidente tem seus fiéis seguidores, assim como Lula. O frenesi está alto nas redes sociais, com a possibilidade de uma disputa entre os dois.
Como comentei aqui no blog em um post antigo sobre o que eu pensava do governo petista, realmente não há como negar o que foi feito nesse período no país, e eu mesma fui beneficiada pelo ProUni, e me formei na faculdade graças a esse benefício. Porém, não posso fechar os olhos para os escândalos de corrupção e a crise econômica que veio depois disso.
Isso, obviamente, não significa que eu apoie o governo atual. Muito pelo contrário. Como eu mencionei em outro post aqui no blog sobre a entrevista de Bolsonaro no Roda Viva, quando ele ainda era candidato, ele é mais do mesmo. Nunca foi um político diferente. No máximo, mais bocudo. Mas ainda assim, cheio de discursos vazios. Nunca teve nenhuma proposta concreta para melhorar o país. Só era uma busca por poder, por tirar o PT do governo (que, inclusive, já estava fora desde o impeachment de Dilma Rousseff). Também não dá para ignorar a irresponsabilidade do presidente com relação à pandemia.
Diante disso tudo, não vejo melhor opção entre Bolsonaro e Lula. E tenho pedido a Deus que haja uma terceira opção, mais viável do que esses dois, nas próximas eleições. O Brasil só tem se afundado, e com essas opções para a presidência, só vai continuar se afundando mais.
Mulher Leoa
Era uma quarta-feira, 19 de abril. Estava eu indo gravar um vídeo para o YouTube, junto com meu esposo Luiz Henrique, na casa de um amigo dele, em pleno dia do meu aniversário. Leandro o nome desse amigo. Poxa, justo no dia do meu aniversário... Achei que teria um jantar romântico, qualquer coisa assim. Mas não. Tive que passar 40 minutos quase passando mal num ônibus, enquanto o motorista brincava de Velozes e Furiosos nas ruas da Zona Sul de São Paulo. Já estava de noite, um pouco mais de 18 horas, e já estava escuro.
O nome do bairro é Moinho Velho, que fica ali próximo ao Sacomã. Estava tonta, já que normalmente passo mal em viagens de ônibus, mas não deixei de perceber que aquela região era bem bonita, e os prédios pareciam no mínimo de classe média alta. Meu esposo avisou ao Leandro que havíamos chegado, e era para ele descer e abrir o portão do prédio para nós. Poucos minutos depois ele apareceu. Rapaz de 23 anos, loiro, olhos castanhos, branco, de óculos, magro e com cara de nerd. Devia ter aproximadamente 1,80m. Parecia-me familiar, mas não questionei isso logo de cara. Gravamos, e depois ele nos convidou para subir até o apartamento onde morava com a mãe e as duas irmãs mais novas. As meninas, Larissa, de nove anos, e Luana, de 13, estavam no quarto vendo vídeos e brincando. A mãe, Patricia, não estava em casa. Bebemos um copo d’água, usamos o banheiro e estávamos para ir embora, quando Patricia chegou. Fomos devidamente apresentados, e começamos todos a conversar.
Patricia é uma mulher muito bonita. Seus cabelos castanhos um pouco abaixo do ombro dão uma jovialidade ao seu rosto fino, principalmente com o corte repicado que usa. Deve ter 1,75m de altura mais ou menos, já que é mais alta que eu. Tem o corpo magro mas definido, uma barriga chapada, e anda sempre muito bem arrumada. Nos seus 44 anos, quase 45, parece estar no auge de sua beleza. Seus olhos escuros são de mulher leoa, corajosa, batalhadora e durona, como seu signo. Ela possui um ar de deboche com a vida, como se já a tivesse domado há muito tempo.
Sua história começou quando sua mãe engravidou, mas não sabia que era uma gravidez de gêmeos, já que ela apareceu na frente de seu irmão na ultrassonografia, e ele não foi identificado. Por conta disso, o enxoval foi preparado apenas para um bebê. No momento do parto cesariano, quando os médicos já estavam fazendo os pontos, o pezinho de um outro bebê apareceu, e tiveram que tirá-lo dali. Na época, toda mulher queria dar um filho do sexo masculino para seus maridos, e mesmo seu pai tendo que correr para conseguir mais um enxoval, estavam todos felizes.
Patricia cresceu sendo criada pela avó, pois sofrera rejeição de sua mãe desde criança. Sua relação próxima com o pai causava ciúmes, que chegava muitas vezes a ser agredida ao ponto de parar no hospital. Ela foi crescendo, e por conta dessa situação, apesar de passar a semana na casa dos pais, assim que saía da escola na sexta-feira, já ia direto para a casa da avó. Além de todos os abusos, era obrigada pela mãe a fazer os trabalhos de escola do irmão e a passar respostas de exercícios e provas para ele, sob ameaças.
Sua adolescência também foi uma época muito complicada. Enquanto ela se dedicava aos estudos, sonhando em prestar o vestibular em Direito, seus pais queriam que ela procurasse um marido e se tornasse uma dona de casa. Para eles, apenas os homens tinham o direito de trabalhar e fazer faculdade. Quando estava terminando o último ano do colegial, para fugir de tanto sofrimento, ela usou o dinheiro da mesada que seu pai lhe dava para comprar folhetos para estudar, pagar as provas e prestar o vestibular escondida. Ela sabia que precisava estudar e trabalhar para ter independência financeira e sair daquela situação.
Seu sonho de entrar na faculdade então se concretizou aos 17 anos. Passou na primeira fase da USP, na Mackenzie, na PUC e na FMU, em Direito. A faculdade escolhida foi a FMU, que para ela parecia a melhor opção por estar em segundo lugar no ranking de melhores cursos de Direito na época, e porque a PUC estava sempre em greve e na Mackenzie tinham muitos dependentes químicos. O momento mais tenso foi o de dar a notícia para os pais. Um motivo de orgulho para muitos, mas não para eles. Ficaram bravos, quase bateram nela, mas não tinham o que fazer. Era a vontade dela, e a matrícula já estava feita.
Como a faculdade era cara, teve que trabalhar como estagiária num banco, onde ficou por seis meses, mas acabou se envolvendo numa confusão amorosa: uma advogada para quem ela prestava serviços estava apaixonada por um advogado que se interessou por Patricia. O ciúme que a sua chefe sentiu fez com que houvesse uma briga, que acabou fazendo com que ela saísse do emprego e fosse estagiar num escritório de advogados.
Nesse escritório, a namorada de um de seus chefes enxergou nela o potencial para uma carreira de modelo. Na época, Patty era surfista e, com mechas loiras e lentes de contato azuis, ganhou muito dinheiro fazendo desfiles, chegando até a viajar para Milão. Tudo isso sendo conciliado com o estágio e a faculdade.
Um ano depois, saiu do escritório e foi trabalhar no antigo Banco Noroeste, que hoje pertence ao Santander. Como já estava no segundo ano da faculdade, conseguiu o cargo de assistente jurídica, e tinha um bom salário. Lá, trabalhou durante 10 anos. Patty era inteligente e dedicada, e continuou conciliando os desfiles com a carreira na sua área, até que sua mãe descobriu qual era seu emprego paralelo. Ela foi capaz de chamar a própria filha de prostituta e fazer um escândalo na agência onde Patty trabalhava, o que destruiu sua carreira nas passarelas, chegando até a perder uma oportunidade de trabalho no SBT.
Nessa época, Patty era apaixonada por um rapaz chamado Gilberto. Ele era muito esforçado, estudava e trabalhava, mas como sempre seus pais queriam atrapalhar seus planos e atrapalhar esse relacionamento, tudo porque ele não era rico. Após uma das diversas brigas que o casal tinha, ela viajou para Itanhaém e lá conheceu um rapaz, chamado Rogério, com quem teve seu primeiro filho. Ficou com ele para fazer ciúmes a Gilberto, mas na verdade não o amava. Porém, como o rapaz fazia parte da família que era dona da maior parte do comércio da cidade, seus pais logo trataram de obrigá-la a morar junto com ele, em Osasco, onde a mãe dele morava. Mesmo Rogério dando sinais de que era extremamente ciumento e possessivo, além de violento, e Patty tendo avisado sua mãe disso, ela não se importou e a obrigou a manter o compromisso.
Sua então sogra tinha duas casas, uma onde ela morava e outra estava alugada. Mas isso não foi problema para ela, que pediu a casa de volta para que seu filho pudesse viver com Patricia. A partir de então, um novo pesadelo se instaurou em sua vida: enquanto seu “marido” guardava todo o dinheiro que tinha para si, ela tinha que bancar a casa e até a sogra, além de toda a possessividade de Rogério, que não a deixava ir sozinha nem para o trabalho, nem para a faculdade, nem mesmo para assistir aula, já que na época ele conseguia entrar na sala mesmo sem ser matriculado. Em um desses episódios, dentro do carro, quando Patty foi soprar a fumaça do cigarro que fumava para fora da janela, coincidiu parar bem ao seu lado um rapaz bonito em outro carro. Simplesmente por achar que ela estava olhando para o rapaz, ele lhe deu um beliscão que deixou um hematoma em sua perna.
Chegou um momento em que ela já não aguentava mais passar por aquelas situações, e decidiu terminar o relacionamento abusivo. Rogério até pareceu arrependido de seus atos de início, foi carinhoso, assim como todos os homens abusivos fazem. Mas era apenas uma armadilha e, numa relação sexual, ele rasgou a camisinha de propósito para que Patricia engravidasse. Isso foi num mês de agosto, no seu último ano de faculdade. Mesmo contrariada, ele e seus pais marcaram a data do casamento para o dia 5 de novembro daquele mesmo ano, e ela tinha que bancar a festa, o vestido, comprar o apartamento e preparar tudo. Porém, cinco dias antes da data do casamento, eles tiveram uma briga feia, ele a empurrou, ela perdeu a cabeça e partiu para cima dele. Depois de toda a confusão, ela arrumou suas coisas e foi passar a noite na casa dos pais, deixando bem claro que não haveria mais casamento.
No dia seguinte, quando achou que poderia ir para o apartamento que havia comprado, uma surpresa. Rogério, que havia ido em seu lugar para assinar a escritura porque ela estava em reunião, colocou o imóvel no nome dele, e quando ela chegou lá, a fechadura estava trocada e o apartamento praticamente vendido para outra pessoa. Quando foi avisar o buffet, a igreja e o aluguel do vestido que não haveria mais casamento, dos quais ela teria como receber de volta metade do valor dos dois, outra desagradável surpresa: o pai de seu ex-noivo já havia passado por lá e pegado o dinheiro dos dois estabelecimentos.
Já irritada, Patricia foi até a casa deles, e fez um pedido bem simples: “enfiem esse dinheiro no rabo, esqueçam que eu existo e me deixem seguir minha vida em paz com meu filho”. Nem pensão ela pediu, para não ter mais contato algum com aquela família.
Por conta de tantas agressões e tantos momentos de tensão, Patty começou a ter sangramentos e, numa consulta com a ginecologista, descobriu que sua placenta havia descolado e, se continuasse com a correria de sempre, acabaria tendo um aborto espontâneo. Ela então escolheu passar a gravidez inteira em repouso, para não perder seu bebê.
Depois de toda essa confusão, como sua carreira estava estabilizada, ela decidiu comprar outro apartamento e morar sozinha com o filho. Porém, seu pai acabou falindo e, por conta disso, pediu para que ela continuasse morando em sua casa para ajudá-lo financeiramente. Patty concordou, desde que eles cuidassem de seu filho enquanto ela trabalhasse. Ela então registrou a própria mãe como babá e pagou-lhe um salário, para que ela pudesse fazer esse trabalho. Com isso, ela construiu no fundo da casa dos pais um espaço para que ela também pudesse acolher a avó, cuidando dela até que todos se mudaram para um apartamento, e ela foi viver com uma de suas filhas até sua morte.
Durante mais de sete anos, ela não quis ter mais relacionamentos. Decidira viver apenas para seu filho, até que o banco onde trabalhava fora vendido e todos os advogados demitidos, incluindo ela. Então, teve que arranjar outro emprego, e encontrou um de gerente comercial na Filtros Europa. Acabou conhecendo o dono da empresa, Ricardo, com quem teve sua filha do meio, Luana. Seus pais, mais uma vez, não gostaram do relacionamento. Mas desta vez por outro motivo: medo dela se casar e não ter mais ninguém para sustentá-los.
Na época, apenas ela trabalhava para sustentar a família inteira, incluindo a casa da tal tia que cuidava de sua avó e tinha filhos pequenos. Até havia emprestado o FGTS inteiro que recebeu do tempo de trabalho da empresa antiga para seu pai. Eles chegaram a vender a casa onde viviam, e foram morar em um apartamento, no mesmo prédio onde ela vive hoje. Outra criança estava chegando na família. Viagens, comidas caras, restaurantes, bebidas, todos esses mimos, tudo no cartão de crédito e nos cheques em nome de Patricia. Ela pensava que ao fazer de tudo para o conforto deles, ela pudesse comprar o amor dos pais. Mas estava muito enganada.
Ricardo estava ficando saturado de ver Patty se desdobrar para sustentar tudo praticamente sozinha, enquanto seus pais tinham tudo de bandeja e não procuravam ajudar nem pagando a conta de luz. O relacionamento deles foi se desgastando de tal forma que, quando estava grávida de cinco meses, ela teve que escolher entre o pai de sua filha e os pais. Pensava ela: “ah, marido eu posso arranjar em qualquer esquina; família é para sempre, eu não posso abandoná-los”. E o casal então se separou definitivamente. Seus pais estragaram mais um de seus relacionamentos, e até o dinheiro que já estava destinado aos seus cuidados médicos com a gravidez e o parto, seu pai alcoólatra gastou em bebida.
Com o passar do tempo, Patty não conseguia mais sustentar a todos sozinha. Desempregada, sem dinheiro para o parto, com dois filhos para criar. Teve que se virar para pagar as contas, vendendo salgados para festas de aniversário de crianças. Aos sete meses de gravidez, sua bolsa estourou, e como seu pai não a deixou sair com o carro, ela teve que ir de ônibus até o Hospital São Paulo, para descobrir que ele estava em greve e voltar para casa. Sangrando. Bolsa estourada. Espera de uma semana, até o hospital voltar ao funcionamento. Sua filha sobrevivendo dentro de uma bolsa cheia do próprio xixi. Risco de vida para Patricia. Foi internada na hora. Sozinha. Ninguém a visitou. De tanta angústia, chegou até a ter uma parada cardíaca.
Depois de um tempo, quando sua filha já tinha seis meses, seu pai decidiu então vender o apartamento, já que estava em seu nome, e viver de aluguel para não depender mais da filha que é “mãe solteira”. Contrataram uma imobiliária, e Patty conheceu ao Peres e ao Francisco, que lhe ofereceram um emprego de corretora e advogada na J Peres. Na época, ela também conheceu Flavio Solano, o construtor do prédio onde ela vive, que se indignou com a exploração que sua família lhe fazia, e lhe fez uma ótima proposta: vender o apartamento para ela por menos da metade do que ele valia. Todavia, Patricia não conseguia deixar seus pais na rua, e eles voltaram a viver no apartamento com ela.
Trabalhando na J Peres, Patty começou a namorar com Francisco, sem saber que ele era dependente químico. Depois de um tempo, ela descobriu, mas como via que a família dele não se importava com a situação, fez de tudo para ajudá-lo a sair das drogas. E sozinha, tinha que dar conta de sustentar a casa, dar dinheiro para o irmão que passava por dificuldades financeiras, cuidar dos filhos, do namorado que sumia de madrugada, e até do filho que Francisco já tinha. Mal dormia, mal comia. Sempre tentou cuidar de todos, mas não tinha ninguém que lhe estendesse a mão. Com ele, ela teve Larissa, sua filha caçula, da mesma forma que aconteceu quando ela engravidou de seu primeiro filho. Porém, dessa vez, o pretexto era o medo que Francisco tinha de perdê-la.
A situação de Patricia estava tão crítica durante a sua terceira gravidez, com o julgamento de seus pais por ser mãe solteira mais uma vez, por ter um filho de cada pai, por Francisco se envolver cada vez mais nas drogas e ter chegado até a traí-la com outra dependente química, que ela acabou tendo um AVC.
Mas, mais uma vez, ela se reergueu. Continuou lutando, pelos seus filhos. Mesmo decepcionada por seus pais e seu irmão só estarem ali por dinheiro, mesmo com seu namorado a traindo. Teve que adiar diversas vezes a cesariana, porque sempre tinha reuniões de trabalho de última hora. Até que finalmente ela conseguiu ir, mesmo tendo que perder a hora marcada e ter que aguardar para ser internada. Sozinha de novo.
Passou-se um tempo depois do parto, e Patricia decidiu terminar o relacionamento e, consequentemente, sair do emprego. Com raiva, seus pais disseram que pegariam o dinheiro que eles tinham para receber de um processo para ir embora. Mas como eles tinham total acesso à sua conta bancária, eles ainda conseguiram pegar um empréstimo e um financiamento em seu nome, além de tomarem todo o dinheiro que ela tinha no banco. Desempregada, com o nome sujo, devendo 3 anos e meio de condomínio e 4 anos e meio de IPTU. Duas crianças pequenas e um adolescente para alimentar. Foi a gota d’água. Decepção, angústia, fundo do poço.
Mesmo com os pais fora de casa e de sua vida, eles continuavam a atormentar. Seu pai entrou na justiça contra ela afirmando que tinha direitos sobre o apartamento onde ela vive porque ele foi comprado com dinheiro da venda do outro apartamento que estava no nome dele. Sua mãe fazia trabalhos de macumba contra ela, junto com sua tia. Com muito esforço sobrevivia, vendendo latinha, vendendo as próprias roupas de grife, para poder alimentar a si e também aos seus filhos.
Reerguer-se do zero não foi nada fácil. Seu apartamento ainda hoje sofre as consequências de um período avassalador. Mesmo num prédio aparentemente confortável, ele é muito simples. Um único sofá de três lugares e uma mesa de jantar na sala. Eles não possuem TV nem estante na sala. O guarda-roupas que fica no quarto de Patrícia foi todo montado por ela mesma, reaproveitando a madeira de outros móveis. O banheiro também não fugia do padrão da casa. Tudo simples, mas naquele lar, existe um amor e uma união que não se vê nem em comerciais antigos de margarina. As próprias meninas riam ao falar de quantas vezes todos já chegaram a tropeçar num degrau que separa a sala de estar do espaço reservado para a mesa de jantar, quando a energia foi cortada e eles passavam a noite na mais completa escuridão.
Hoje, eles já têm como sobreviver melhor. Leandro faz alguns bicos num buffet e se dedica a um possível futuro como youtuber. Patricia trabalha num escritório de advogados. Mas ninguém tem um smartphone. Na casa, o que eles têm de tecnologia é um tablet de uso coletivo e um notebook que está com o carregador quebrado. Tanto que as edições dos vídeos têm que ser feitas na casa de um amigo que é co-autor do canal no YouTube junto com Leandro.
A comunhão da família dá uma sensação de acolhimento a qualquer pessoa que esteja entre eles. Quando comentaram que era meu aniversário, todos da casa me abraçaram, desejaram felicidades e foram muito acolhedores. A comunicação entre eles então, nem se fala. Conversam sobre todos os assuntos. Para Patricia, não existe tabu dentro de sua casa. Até Larissa, a caçula, já é bem informada sobre assuntos que para a idade dela geralmente não se fala muito, como sexo por exemplo. Luana já tem um namorado na escola, e isso é algo tido como normal entre eles, o que em outras famílias seria inadmissível, já que a menina “só tem 13 anos”.
Patty não voltou a se relacionar com mais ninguém. Vive apenas com seus três amores, e faz de tudo para que eles estejam preparados para enfrentar a vida como ela é: dura, difícil, e nem sempre terão alguém em quem ter algum suporte. Como ela mesma diz, “eu não estarei viva para sempre para ajudar eles, então quero deixar algo para que eles possam seguir a vida”. Mas ela não deixa de curtir cada momento que pode com eles. Quase todos os dias, os três passam grande parte da noite deitados junto com ela em seu quarto, conversando, dando risada, ou assistindo filme e comendo uma pipoca.
A conversa estava maravilhosa, mas eu estava pálida e passando mal. A viagem de ônibus, o estômago vazio e um desafio de comer cebola para o tal vídeo, e minha cabeça estava girando. Estávamos quase indo embora, mas eu não estava em condições de pegar um ônibus e voltar para minha casa. Tive que voltar para o apartamento e ir ao banheiro. De pronto, Patricia se mostrou preocupada comigo, como uma verdadeira mãe. Ao me ver naquele estado, ofereceu-me um lanche para forrar o estômago. Enquanto não viu meu rosto voltar a ter cor, não me deixou ir embora. Meu esposo também comeu e ficou ao meu lado. Mas ela realmente me surpreendeu. Mesmo tendo passado por tanta coisa, tendo que se virar para sobreviver sozinha, driblando assédios, com todos os motivos do mundo para não ter afeição a mais ninguém, ela demonstrou um amor imenso por quem acabara de conhecer.
Simplesmente percebi que este foi o aniversário mais exótico que já tive, mas também um dos mais incríveis. Ganhei novos amigos e uma experiência de vida extraordinária. E essa leoa que colocou no bolso todas as diversidades que passou, demonstrou mais gratidão pela vida do que muitas pessoas que possuem tudo o que desejam.
Só não deixe de ver a Beleza Oculta
Imagem: Portal Folha |
Numa busca rápida no Google, vi que ele foi massacrado pela crítica. Felizmente, eu o vi antes de ler sobre, e tive uma impressão totalmente diferente do que pintaram na mídia. Tocando em temas extremamente delicados do ponto de vista emocional, como a depressão e a morte, se você assiste sem julgamentos e com a mente aberta, vai perceber que ele propõe diversas reflexões.
Vamos começar pelo drama vivido pelo personagem de Will Smith, que perdeu sua filha de seis anos, e entrou em uma profunda depressão. Não consigo imaginar o tamanho da dor de um pai que perde um filho, mas com certeza é um grande motivo para que alguém chegue ao estado que ele chegou, de não conseguir se comunicar, de não saber lidar com a dor, de se separar da esposa. Ela, por sua vez, foi quem recebeu o conselho de alguém muito sábio: “Só não deixe de ver a beleza oculta”. Assim, ela conseguiu, apesar da dor, seguir em frente, e descobriu num grupo de pais que perderam os filhos que precisava falar da sua dor para conseguir superá-la ou, ao menos, conviver com ela.
Esse filme mostrou que preciso falar sobre nossas dores, nossas feridas emocionais, para conseguir tratá-las. Colocar para fora o que sentimos é extremamente necessário. Vemos exemplos bíblicos que, quando alguém enfrentava um luto, rasgava as roupas, raspava a cabeça, chorava, vivia a dor, colocando-a para fora, para conseguir lidar com ela. Nunca se falou tanto sobre depressão como nos dias de hoje. Ontem, foi noticiado o suicídio do ator Flavio Migliaccio e a carta que ele deixou. É importante falar sobre isso, para que as pessoas se conscientizem e, quando precisem, busquem ajuda. Não guardem isso para si mesmos.
Agora, vamos falar sobre o personagem de Michael Peña, que enfrenta sozinho uma doença em fase terminal. O medo de causar dor à sua família o silencia. Mas a verdade é que a família não está ao nosso lado apenas nos bons momentos. Família de verdade está ao nosso lado também nos dias maus, e nessas horas é que mais precisamos do apoio e do amor dos nossos entes queridos.
Existem também outros assuntos que são abordados, como a luta contra o relógio biológico, vivido pela personagem de Kate Winslet, que deseja ter filhos mas está chegando na menopausa, e a possibilidade da adoção. É um tema que poderia ter sido mais explorado, já que existem muitas crianças ao redor do mundo que precisam de um lar. Como cristã, fui particularmente tocada pela questão, já que vejo Deus como um Pai amoroso que me adotou, que cuida de mim todos os dias, e o quanto eu precisava desse amor que vem Dele, mesmo tendo o privilégio de ter sido criada por pai e mãe. E o desejo do meu coração é que, futuramente, eu possa adotar uma criança e dar a ela a possibilidade de ter uma família.
Outro tema tratado pelo filme é a relação estremecida entre um pai e um filho, vivido pelo personagem de Edward Norton. Ele traiu a esposa, eles se divorciaram, ela ficou com a guarda da filha e casou-se com outro homem. A menina, no meio da confusão, toma as dores da mãe e passa a rejeitar o pai. Ele, então, tem que lutar para reconquistar a filha. Esse momento me mostrou que, mesmo um pai cheio de falhas e defeitos, nunca desiste dos seus filhos. Imagino então como é Deus, que é perfeito e rico em misericórdia. Como diz a Palavra em Mateus 7:9-11, se o homem que é mau sempre busca dar o melhor aos filhos, Deus, que está nos céus, pode dar infinitamente mais.
A ideia do filme de falar sobre a morte, o tempo e o amor, pode ser interpretada de outra forma, não só a que os três “motivos” sejam voltados ao que o personagem de Will Smith vivia. Cada um dos outros três personagens principais passava por uma dificuldade. Um com a doença e a ameaça da morte vindoura, outra com o tempo para gerar um filho, o terceiro procurando recuperar o amor da filha. Enquanto eles estavam tentando “ajudar” ou “dar um golpe” no personagem central, eles mesmos estavam sendo tratados em suas próprias questões.
Por tudo isso, no meu ponto de vista, pelo menos, foi um excelente filme. A interpretação, logicamente, vai de cada pessoa, pois cada um de nós carrega uma bagagem. Assistam ao filme, e tirem suas próprias conclusões.
Assinar:
Postagens
(
Atom
)
Postagem em destaque
Mundo nas Páginas - SUNO AI (Música sobre Livros) ✨🥰
Oi, gente! Tudo bem com vocês? Lancei um novo canal no YouTube, onde eu publico músicas que criei com Inteligência Artificial. Essa aqui a ...