Vergonha alheia - do candidado e do jornalismo




Nesta semana, eu assisti à entrevista dada pelo candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que é conhecido por ter excelentes entrevistas e ser um programa jornalístico de referência.

Contudo, o que eu assisti não tinha nada de referência jornalística. O que eu vi me deu agonia, vergonha e me irritou muito. Uma tremenda falta de respeito de ambas as partes por não respeitar a vez do outro falar, fora os jornalistas intrometidos que metiam uma pergunta no meio da resposta do Bolsonaro pra outro jornalista.

Também vi uma completa e clara falta de preparo do candidato para responder perguntas simples e de real interesse, como planos para o Brasil nas áreas da economia, saúde e educação, com ajuda dos jornalistas que, ao perceberem isso, partiram para perguntas militantes.

Isso tornou uma entrevista de quase 1h30 tão improdutiva que terminei o vídeo com um sentimento de tempo perdido. Poderia ter assistido um filme legal na Netflix ou vídeos de entretenimento no YouTube que eu teria ganhado mais.

O despreparo dos jornalistas presentes também foi notório. Quem usa "verbete do Wikipedia" hoje em dia como fonte de informação? Aquilo ali pode ser editado por qualquer pessoa. Quantas vezes vimos memes de coisas totalmente nada a ver com o assunto tratado lá por causa dessa função? Nem os professores das escolas públicas de Ensino Fundamental estão aceitando Wikipedia como fonte de pesquisas.

E “Jesus refugiado”? Eu realmente tinha ouvido falar dessa pergunta antes de assistir ao vídeo, mas achei que o jornalista teria pego ao menos um trecho bíblico, ainda que fora de contexto histórico, para ter uma base, um fundamento para a sua pergunta. Mas nem isso. Ele só jogou a informação lá como se fosse confete. Que vergonha alheia!

É nessas horas que eu penso: é por isso que até hoje eu não consegui nenhuma vaga na área do jornalismo. Eu não consigo engolir a “turma da lacração” e também não sigo igual a um cachorrinho um candidato ou uma ideologia política, seja qual for.

Para piorar o cenário, tem muitos cristãos “idolatrando” o candidato, porque ele diz que defende a família, porque ele fala em Deus (não sei se em vão como um certo deputado que hoje está preso) e porque ele citou um versículo bíblico ao final de sua entrevista: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32). Ora, ele mesmo afirmou que “para a infelicidade da esquerda, ele não vai morrer”. Como ele pode saber? Ele esqueceu que não pode adicionar um segundo à própria vida e nem sequer temos certeza de estarmos vivos daqui cinco minutos. Desejo que ele viva bastante tempo, mas é uma realidade. Não sabemos o dia de amanhã. Meias verdades não me iludem mais.

Resumão de toda essa história: Jair Bolsonaro possui um discurso vazio igual ao de qualquer político, e os jornalistas são vazios. De conteúdo. O que me traz vergonha da profissão na qual me formei. Bolsonaro fala muito que o Brasil está cansado da esquerda, mas sequer consegue consultar os “especialistas” aos quais ele deseja se aliar para governar o país, para se informar sobre projetos para educação, economia e saúde, para responder perguntas simples em uma entrevista que deveria ao menos ter a finalidade de mostrar quais são as propostas de um candidato. E os jornalistas fizeram um desserviço à população brasileira, mostrando que estavam ali apenas para defender um viés ideológico, e pior: sem nenhum argumento realmente embasado.

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A dona do blog




Andressa Soriano, 27 anos, São Paulo SP - Brasil.
Cristã, casada, formada em Jornalismo. Apaixonada pela Palavra de Deus, por livros, músicas, pela arte de escrever e criar conteúdo, pelo idioma espanhol.
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