Resenha #14 | Meu primeiro golpe de Estado
Título: Meu Primeiro Golpe de Estado
Autor: John Dramani Mahama
Gênero: Autobiografia
Nacionalidade: Ganense
Título original: My first coup d'etat
Tradução: Maria Beatriz de Medina
Editora: Geração Editorial
Nota: 10/10
Meu Primeiro Golpe de Estado é o primeiro livro do historiador, comunicador e atual presidente de Gana, John Dramani Mahama, que conta a sua história pessoal de vida, embalada pelos diversos golpes políticos que seu país sofreu. Em forma de um livro de memórias, a obra também pode ser considerada uma fonte histórica, pois o narrador é uma testemunha ocular dos fatos ocorridos entre as décadas de 1970 e 1990.
O início da história começa com o primeiro golpe de Estado de Gana, quando Mahama tinha apenas sete anos. Seu pai era um ministro do governo, que acabou sendo preso por anos. A partir de então, passou a ser criado pela irmã mais velha, até ser colocado num colégio interno.
Um trecho interessante dos relatos é quando ele conta sobre um menino que se tornou um ditador dentro da escola, em relação aos outros garotos. Mahama conta que as situações vividas eram um retrato do que o seu país vivia, e mesmo que ainda criança, alheio às questões profundas que existiam, ele aprendeu uma lição: não abaixar a cabeça para a opressão.
O livro conta histórias relacionadas principalmente ao seu pai, E. A. Mahama, que além de político, foi um grande empresário. A separação de seus pais, os novos casamentos, o contato com a religião católica em meio a tantas outras religiões que o povo ganês conhecia, a quantidade de irmãos que tem. São relatados também diversos costumes do povo na época, como por exemplo a poligamia, o ritual de paquera dos jovens, os dialetos, as músicas e até os costumes implementados pelos colonizadores ingleses e, logo em seguida à independência, a adesão ao Commonwealth.
Também é um livro muito envolvente, por se tratar de uma história humana, e não apenas de relatos históricos frios. Carregado de emoções, Mahama conta como foram as "décadas perdidas" da África, nas quais não houve crescimento econômico, mas muitas guerras civis, refletidas nas lutas e dificuldades de sua vida: pobreza e precariedade não só de um indivíduo, mas de um país inteiro, desde a alimentação até uma simples locomoção dentro do próprio território.
As dificuldades eram tantas que Mahama teve que sair de Gana e viver por um tempo na Nigéria com seu pai, que fugia de mais um ditador que deu novo golpe após a redemocratização de Gana. Ele conta também sobre o pedido de exílio de seu pai em Londres e sua busca pelo filho que ele, enganado, cedeu para um casal de missionários ingleses adotar; do êxodo intelectual que seu país sofreu; e até mesmo de seu intercâmbio na antiga URSS, onde hoje é a Rússia, que em pleno colapso o fez repensar sua ideologia marxista.
São muitos detalhes que não poderiam ser descritas numa simples resenha. É simplesmente tocante cada história, cada memória, e Mahama é capaz de transformar cada palavra em sentimento e em imaginação. A gente se sente em Gana, passando junto com ele todos aqueles momentos descritos. Um excelente autor que produziu uma excelente obra, ambos de sensibilidade grandiosa.