Resenha #28 | A Rainha do Sul
Título: A Rainha do Sul
Autor: Arturo Pérez-Reverte
Gênero: Romance
Nacionalidade: Espanhola
Título original: La Reina del Sur
Tradução: Antonio Fernando Borges
Editora: Companhia das Letras
Nota: 10/10
Tenho três palavras para definir o que é essa obra chamada A Rainha do Sul: impactante, envolvente e apaixonante. Não tem como não se envolver na história de Teresa Mendoza, a Mexicana que conquistou um lugar de destaque no meio do narcotráfico na Espanha. “Uma mulher com colhões”, como dizem os personagens da trama. Uma mulher que, em meio a sua fragilidade num meio extremamente machista e perigoso, se mostra corajosa, ainda que por dentro temerosa.
Começamos a conhecer a Teresa ainda na cidade de Culiacán, no México, sua terra natal, onde ela cresceu em meio a problemas familiares e se envolveu com o narcotráfico. Ainda muito jovem, conheceu Ruço Dávila, piloto de avião do cartel de drogas de Sinaloa, e tornou-se sua namorada. Viveu com ele por alguns anos, até que um dia, quando ela menos esperava, ele foi morto a mando de seu próprio chefe. Foi estuprada por um dos assassinos de seu homem e quase morta; mas conseguiu sobreviver, e acabou fugindo para a Espanha.
Lá na cidade de Melilla, ao norte da África, foi onde ela conheceu outro homem, com quem também se envolveu: Santiago Fisterra. Com ele, Teresa aprendeu sobre embarcações e como funcionava o tráfico ao sul da Espanha. Passou com ele momentos cheios de desejo e paixão, que quase a fizeram esquecer dos seus traumas vividos no México. Porém, em uma perseguição da embarcação em que eles estavam a serviço do narcotráfico, os dois acabaram sofrendo um acidente, o que levou a vida de Santiago e a liberdade de Teresa.
Foi na cadeia que ela conheceu Pati O’Farrell, uma mulher rica por parte da família e poderosa dentro daquelas dependências, conhecida ali como “Tenente O’Farrell”. Ali dentro, elas se tornaram melhores amigas. Fora dali, quando se encontraram, acabaram se tornando sócias no mundo do narcotráfico, graças à meia tonelada de cocaína que Pati tinha herdado de seu falecido noivo, que havia escondido a droga em um local em que apenas ela sabia onde estava.
A partir daí, começou a ascensão de Teresa Mendoza no narcotráfico na Costa do Sol, a nível continental, já que ela começou a ter contatos com russos, ingleses e franceses. Ela montou um esquema complexo de transporte de cargas de drogas desde a Colômbia até os países da Europa. Graças a isso, ela conseguiu uma grande fortuna e um homem para ajudá-la com questões legais e a satisfazer seus desejos sexuais: Teo Aljarafe, casado, amigo de Pati e um grande traidor, tanto de sua esposa quanto da própria Teresa, desviando dinheiro das negociações e até denunciando-a para as autoridades. Em meio a tantas complicações, Teresa se descobre grávida, e decide então acertar as contas com seu passado, no México.
Todo esse enredo é contado no formato de livro-reportagem, numa narração de um personagem jornalista e escritor que decide escrever um romance sobre a vida dessa mulher tão intrigante. Outro ponto interessante é que o autor mostra como a vida da personagem principal mudou depois que, graças a Pati O’Farrell, Teresa estudou e começou a ter o hábito da leitura, tornando-a culta e poderosa, além da força que ela teve de superar os maus momentos que passou, incluindo o abuso sexual.
Como é de se esperar de um romance que retrata o mundo do narcotráfico, a linguagem é naturalmente vulgar, contendo palavrões e conteúdo sexual explícito, por isso não indico para quem é extremamente sensível a esse tipo de linguajar (eu mesma em alguns momentos me senti incomodada).
Teresa Mendoza não é uma heroína para mim, mas uma mulher complexa, com qualidades e defeitos, e que simplesmente permitiu que outras pessoas decidissem seu destino por ela: seus dois namorados e sua amiga. Ela realmente só tomou o controle da própria vida ao regressar para o México e mudar de vida, como se apenas as pessoas que têm dinheiro conseguissem fazer isso. Porém, não descarto que seu papel como uma mulher poderosa num meio machista como o do narcotráfico, a superação de situações extremamente traumáticas e a ideia de mudança de vida através da educação são pontos muito positivos nela.
Enfim, Arturo Pérez-Reverte criou uma personagem humana, que cria empatia em nós e, logo em seguida, nos faz odiá-la. É uma narrativa, portanto, próxima da realidade, próxima da essência humana num mundo depravado, e é por isso que o livro realmente é encantador. Vale a pena a leitura.