Resenha #62 | Escravidão (vol. 3)

 



Título: Escravidão (vol. 3)
Autor: Laurentino Gomes
Gênero: Livro reportagem, História
Nacionalidade: Brasileira
Editora: Globo Livros
Formato: Livro físico
ISBN: 9786559870523
Nota: 10/10
Nota Skoob: ⭐⭐⭐⭐ + ❤️




Neste último livro da trilogia sobre Escravidão, Laurentino nos presenteia com informações riquíssimas do momento de maior tráfico de escravos da História: o século XIX. Aqui, ele contempla o período entre a independência do Brasil, em 1822, e a assinatura da Lei Áurea, em 1888. 

É uma obra que, definitivamente, mostra o caráter do brasileiro, que não mudou muito daquela época para hoje. Durante mais de 50 anos, mesmo com uma lei proibindo o tráfico de escravos no Brasil, a atividade continuava acontecendo, à luz do dia, e muito maior e mais rentável do que quando estava amparada pela lei.

A verdade é que o século XIX foi o século da hipocrisia, como o livro nos mostrou (não que seja opinião do autor, essa é a minha opinião baseada no que li e entendi do livro). A Inglaterra, que lucrou muito dinheiro durante séculos com a escravidão, com o Iluminismo, passou a ter a ideia de que todas as vidas importam, que o povo preto não é um ser inferior que não mereça toda a dignidade que qualquer ser humano merece. E por ser a grande potência militar mundial na época, decidiu que todo o mundo deveria pensar assim também, ou os demais países sofreriam sanções. Mas ainda assim, fechavam os olhos para o dinheiro que circulava no país advindo do tráfico ilegal de escravos.

Na linha do tempo contada na obra, temos portugueses e brasileiros ignorando que o resto do mundo estava abolindo a escravidão e criando uma lei “pra inglês ver”, temos reis e líderes africanos confusos porque em um momento tinham sido convencidos de que vender seu próprio povo era algo benéfico espiritualmente, e agora já não era mais, e temos outros países europeus que fechavam os olhos para a escravidão que ainda existia por aqui. O Brasil foi o último a realmente abolir a escravidão, apesar de ter leis que permitiam que os escravos comprassem a própria alforria, coisa que não existia em outros países.

E mesmo depois que finalmente o povo preto teve a tão almejada liberdade, não teve o mínimo de suporte necessário para viver uma vida digna. Muitos deles não sabiam para onde ir, o que fazer da própria vida. Vários voltaram para os antigos “senhores” e acabaram trabalhando para eles por um salário baixíssimo. Não tinham acesso à educação, à profissionalização, moradia, nada. 

A herança desses quase 400 anos de escravidão é uma ferida aberta até hoje em nossa sociedade. Vemos o reflexo no racismo que as pessoas pretas sofrem até hoje, na inferiorização e na precarização do trabalho, na pobreza das favelas, onde a gigantesca maioria da população é negra, na falta de acesso à educação de qualidade. Entender como funcionou o maior crime contra a humanidade já praticado deveria ser obrigatório para todas as classes sociais deste país. Quem sabe assim teríamos mais pessoas conscientizadas sobre as questões que são tão exaustivamente levantadas pelo povo preto.

É por isso que eu sou completamente a favor de ver a trilogia Escravidão sendo estudada nas escolas, sendo matéria de estudo nas faculdades, sendo tema de TCCs e de conteúdos na internet. Essa trilogia é essencial para a sociedade. Todo brasileiro deveria ler.



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A dona do blog




Andressa Soriano, 27 anos, São Paulo SP - Brasil.
Cristã, casada, formada em Jornalismo. Apaixonada pela Palavra de Deus, por livros, músicas, pela arte de escrever e criar conteúdo, pelo idioma espanhol.
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