Resenha #61 | Escravidão (vol. 2)

Título: Escravidão (vol 2)

Autor: Laurentino Gomes

Gênero: Livro reportagem, História

Nacionalidade: Brasileira

Editora: Globo Livros

Formato: E-book (Skeelo)

ISBN: 9786586047936

Nota: 10/10

Nota Skoob: ⭐⭐⭐⭐⭐ + ❤️

O segundo livro da série sobre Escravidão traz mais um apanhado de informações da “época de ouro” da escravidão no Brasil. Literalmente. Entre 1700 e 1800, a mão de obra cativa foi muito utilizada para a exploração de ouro em Minas Gerais e em algumas regiões do Centro-Oeste brasileiro. Além disso, também foram usados para as plantações de cana-de-açúcar (não só no Brasil, mas em diversos outros lugares da América), arroz, tabaco e algodão. Laurentino nos descreve com riqueza de detalhes esse período, que foi um dos que mais deu lucros aos traficantes e senhores de escravos.

Curiosidades como o fato de que os escravos faziam parte de comunidades religiosas que se apoiavam, que eles trabalhavam também para o próprio sustento ao plantarem o próprio alimento e por muitas vezes vendiam alimentos prontos - já que os senhores de escravos queriam reduzir a própria responsabilidade em mantê-los em cativeiro, são pontos de destaque dessa obra. Outro fato interessante é que, pelo menos no Brasil, a possibilidade dos escravos conseguirem comprar a própria alforria e a de seus familiares era maior do que em outros países, como os EUA por exemplo.

As famílias de escravos também eram formadas ali mesmo no ambiente da senzala. Inclusive, alguns senhores de escravos se tornaram padrinhos de casamento de seus cativos, dando uma certa ideia de “amizade” entre eles e, assim, evitando revoltas.

Um dos trechos que mais me impactou é o que menciona a fala da inglesa Jemima Kindersley, que basicamente relata que a população lê pouco, e que não tem conhecimento de muita coisa, e inclusive que é “política do governo manter o povo na ignorância, já que isso o faz aceitar com mais docilidade as arbitrariedades do poder”. Essa citação ecoa até os dias de hoje, como bem podemos observar na nossa sociedade.

Neste livro, outro destaque muito importante é de uma personagem muito conhecida: Chica da Silva, uma das mulheres mais emblemáticas da História da Escravidão. Ela, que já teve sua história dramatizada em novelas e livros, foi uma escrava que se alforriou, casou-se com um homem branco explorador de diamantes, e chegou à elite mineira graças a esse relacionamento.

A riqueza dos relatos de Laurentino nos permite ver claramente o quanto a economia portuguesa dependia do Brasil e da mão de obra escrava, e o quão mal administrados eram os recursos pela monarquia. Porém, as coisas estavam prestes a mudar, já que toda a corte portuguesa estava para desembarcar no Rio de Janeiro, e o cenário brasileiro sofreria uma transformação irreversível.