A festa de Halloween

 



***ATENÇÃO: É apenas um texto ficcional, mas pode ter gatilhos para você. Se não estiver bem psicologicamente, não leia. ***

Era um dia 31 de outubro, que caiu num sábado, para a sorte de Isabela, que estava se fantasiando de bruxinha sexy para ir a uma festa de Halloween com as amigas. Doces ou travessuras? Ela estava buscando justamente a segunda opção.

Nathalia já estava pronta e esperando a carona de Isabela, com sua maquiagem de Catrina. Ela era fã do día de los muertos do México, e achou a fantasia a melhor opção para essa festa.

Já Mariana não estava se sentindo muito bem. Durante as semanas anteriores, estava super animada, só falava dessa festa que seria dada pela sua melhor amiga, Julia. Já tinha escolhido sua fantasia de vampira, comprou tudo o que precisava logo no começo do mês, pesquisou diversas maquiagens no Pinterest, ajudou Julia com a fantasia de zumbi. Mas chegou o grande dia, e ela sentia algo estranho no ar. Como se pressentisse algo ruim.

Julia estava ocupadíssima, cuidando da decoração da festa no salão do prédio, dos comes e bebes, escolhendo as músicas com o DJ contratado, com quem estava saindo. Ainda não tinha tido tempo de se arrumar, e estava quase na hora da festa.

O terror ia começar.




***

Assim que terminou, foi para seu apartamento com o DJ. Entraram no banheiro, tomaram banho, fizeram sexo. Ela foi se arrumar. Ele se vestiu e foi ajustar seus equipamentos.

Os convidados começaram a chegar. Colegas de faculdade, alguns vizinhos, alguns penetras. Entre eles, um homem fantasiado de Coringa, com uma pochete verde fluorescente. Era o contato do DJ para “animar a festa com alguns docinhos”, como ele mesmo disse.

Isabela pegou seu carro, passou na casa de Nathalia para buscá-la. As duas, então, foram juntas para a casa de Mariana. Ela ainda não estava pronta. Nem sequer tinha se vestido.


Isabela chamou: Vamos, amiga! Você quem nos animou para a festa, e agora não quer mais ir?

Mariana respondeu: Não é isso, Isa… Não é que eu não queira ir. Eu só estou sentindo que algo muito ruim vai acontecer.

Nathalia entrou na conversa: Mari, é Halloween. O clima de terror faz parte da brincadeira, né? Vamos, nós te ajudamos a se arrumar. Confia em mim. O que pode acontecer de tão ruim? Todos os anos vamos a todo tipo de festa, cada rolê aleatório que já entramos. Até na favela a gente já entrou sem permissão dos caras, e saímos de boa.

Então Mariana decidiu ir. “Deve mesmo ser coisa da minha cabeça. A Nath tem razão”. Nathalia e Isabela fizeram a maquiagem. Mariana se vestiu. Todas prontas, entraram no carro, e foram em direção à festa.




***

Quando Julia desceu para o salão, a festa já estava rolando. Muita gente dançando ao som das músicas eletrônicas. A luz negra dava um ar sombrio ao ambiente. Luzes piscando, muita bebida, comida à vontade. Ela estava com fome. Foi atrás de um salgado.

Isabela, Nathalia e Mariana chegaram. Isa já chegou dançando e beijando o primeiro cara que apareceu na sua frente. As outras duas se olharam. “Hoje ela tá terrível”, pensaram juntas.

Nath esbarrou com uma ex namorada, e como ela ainda era a fim dela, foi atrás. Mari foi tentar se enturmar com os colegas de faculdade de Julia, que estavam numa mesa ao fundo do salão, bebendo e comendo antes de irem para a pista.




***

O Coringa chegou perto de Julia, e mesmo debaixo da máscara, ela reconheceu os olhos dele. Ela o conhecia. Ele era o terror da sua família. Seu pai estava internado numa clínica de reabilitação. Ele era quem lhe fornecia cocaína.

Ele chegou bem perto de seu ouvido e sussurrou: Relaxa, gatinha. Só estou fazendo meu trabalho. Tá a fim de uma balinha?

Julia, confusa, peguntou: Você é o contato do Douglas?

Coringa respondeu: Claro. Vim animar a festinha. Mas tranquila, não trouxe a branquinha pra cá. Sei que você não curte.

Julia não conseguia esconder o terror em seus olhos castanhos, e em sua expressão.




***

Isabela estava bêbada, e já tinha beijado todos os homens da festa, exceto o Coringa. Quando ela se aproximou dele, puxou-o para si, e tirou a máscara sem resistência dele. Beijou-o com tesão. Ele percebeu, e falou em seu ouvido: “Calma, garota. Você está bêbada. Cuidado com o que você faz”.

Ela, sem pensar, deslizou a mão até onde estava interessada. Ele então a afastou. “Garota, procura suas amigas e vai pra casa. Eu não transo com mulher bêbada, mas se você não tomar cuidado, alguém vai se aproveitar de você”. E saiu de perto dela.




***

Nathalia e Ana Paula, sua ex… ou melhor, agora era atual, porque tinham acabado de se reconciliar, foram até o Coringa, buscar algo para enlouquecerem juntas longe dali. Ana estava de carro, e depois de comprarem as drogas, foram juntas para um motel.




***

Mariana ainda não se sentia bem. Mesmo já tendo comido, bebido um pouco e dançado com Juan, colega de Julia que veio de intercâmbio da Argentina, não conseguiu se sentir à vontade. A companhia era divertida, mas o sentimento de que algo ruim aconteceria, só aumentava a cada minuto.

Juan, que estava jogando ideia nela a festa inteira, perguntou: Estás bien?

Mariana, sincera, respondeu: Na verdade não, Juan. E o pior é que não vou poder ir embora. A Isa está completamente bêbada, e não pode dirigir, e vim de carona com ela. A Nath foi embora da festa com a ex dela, e a Julia sumiu. Já fui até no apê dela, e não a encontrei.

Juan, tentando falar português, perguntou: Querés que eu te lleve para casa?

Mari aceitou. Só queria ir embora dali.




***

No caminho, Juan disse que queria dar um beijo nela a festa inteira, mas não sabia se ela queria o mesmo. Ela respondeu que não estava num bom momento, mas que poderiam marcar de sair outro dia, e quem sabe não poderiam se conhecer melhor e ficar. Para esticar a conversa, Juan foi o mais devagar possível.

Quando chegaram à porta da casa dela, trocaram telefones, e combinaram de se falar no WhatsApp para marcar o encontro.

Mari desceu do carro, acenou para Juan, girou a maçaneta da porta e entrou. E o que ela encontrou na sala a deixou completamente assustada.




***

O dia já estava quase amanhecendo, e os convidados já tinham ido embora. Douglas, o DJ, procurou por Julia em todos os cantos, para que pudessem limpar e arrumar tudo para entregar a chave do salão à síndica do prédio, porém não a encontrou. “Já que a patricinha decidiu desaparecer, vou ter que me virar sozinho”, pensou. Irritado, chamou a zeladora do prédio e os dois faxineiros, e começaram a limpar.

Seu João, um dos faxineiros, foi ao banheiro para limpá-lo. Achou estranho que a porta estivesse trancada, mas como tinha uma cópia da chave, destrancou-a e a abriu. E ali, encontrou algo que o traumatizaria pelo resto da vida.




***

Isabela acordou num lugar que não conhecia. Era um terreno baldio, cercado de muros, e com um portão enorme, que estava fechado. A ressaca veio, junto a uma dor enorme em sua vagina e em seu ânus. Quando se olhou, percebeu que sua fantasia estava toda rasgada, e ela estava quase nua. Havia sêmem escorrendo em sua perna. Ela não se lembrava de nada, não sabia onde estava, mas sabia de uma coisa: alguém a estuprou e a largou ali.




***

Nath e Ana Paula estavam no carro. Ana dirigia, mesmo sob os efeitos das drogas que estavam usando. Estava a caminho da casa de Nath, a toda velocidade. Porém, Ana perdeu o controle do carro enquanto beijava Nath. Bateram no muro de um terreno baldio. Não estavam usando cinto de segurança. Ana bateu a cabeça com toda a força no volante do carro. Nath se chocou contra o para-brisa, quebrando-o e voando para fora do carro. Isabela, que estava ali, tomou um susto. O carro quase a atropelou.




***

Mari estava sentada na calçada de sua casa. Juan não havia ido embora, estava ao seu lado, abraçando-a. Havia emprestado sua jaqueta, para que ela não passasse frio. A polícia e a ambulância estavam em sua casa. Ela não conseguia parar de chorar.

Quando chegou e abriu a porta de sua casa, encontrou os corpos de seus pais e seus dois irmãos menores. Um em cada canto da sala. Todos com tiros em várias partes do corpo, e poços de sangue ao redor de cada um. Na parede, uma mensagem escrita com sangue: “A próxima é você, Mariana”.

Ela sabia muito bem de quem se tratava. Seu ex-namorado possessivo, que não havia aceitado o fim do relacionamento. Ao lado do corpo de Matheus, seu irmãozinho, que tinha apenas 2 aninhos, tinha uma máscara de Coringa.




***

Seu João correu para o salão, gritando: “SOCORRO! SOCORRO! A SENHORITA JULIA ESTÁ MORTA NO BANHEIRO MASCULINO!”.

Douglas correu para o banheiro e se deparou com a cena. Vários remédios antidepressivos espalhados pelo chão, encharcados com sangue. Uma lâmina na mão esquerda de Julia. Uma garrafa de vodka, quase no fim, na mão direita. Os braços, cortados. Ela, sem vida, no chão, vestida de zumbi. Uma carta e uma caneta, em cima da pia. Dizia: “Mariana tinha razão. Hoje foi um dia que aconteceu coisas muito ruins. Uma delas foi o maldito do traficante que entrou nessa merda de festa, que arruinou minha vida e que obrigou meu pai a vender minha virgindade pra ele por uns gramas de cocaína, quando eu tinha só 12 anos”.




Feliz Halloween. 

CONVERSATION

8 comentários. Clique aqui para comentar também!:

  1. Caracas! Sinceramente tô sem palavras. Sério preciso processar. Esse conto é tão aterrorizante exatamente por totalmente possível. Misericórdia. Fiquei nervosa. Mas parabéns por conseguir escrever algo tão intenso. Eu não conseguiria!

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    1. Obrigada maravilhosaaaaaaaaa! Fico feliz de saber que você gostou, e que causou impacto. O terror da vida real hahahahaha

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  2. Muito bom mesmo, parabéns!! Fiquei até querendo mais hahaha

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    1. Que bom saber que você gostou, Joyce! Muito obrigada pelo comentário. Vou ver se escrevo uma continuação 😉

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  3. Nossa, que conto pesado. Ainda bem que é só um conto.

    Bom fim de semana!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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    1. Olá, Emerson! Obrigada pela visita, fico feliz com seu comentário por aqui 😊

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A dona do blog




Andressa Soriano, 28 anos, São Paulo SP - Brasil.
Cristã, casada, formada em Jornalismo. Apaixonada pela Palavra de Deus, por livros, músicas, pela arte de escrever e criar conteúdo, pelo idioma espanhol.
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