Resenha #31 - No Olho do Furacão - América Latina nos anos 60/70



Título: No Olho do Furacão - América Latina nos anos 60/70
Autor: Paulo Cannabrava Filho
Gênero: Livro reportagem / História
Nacionalidade: Brasileira
Editora: Cortez Editora / Plaza y Valdes Editores
Nota: 8/10




O livro “No Olho do Furacão” é um livro reportagem extremamente rico em informações históricas da América Latina nos anos 1960 e 1970, em que todos os países latino-americanos viviam inconstâncias políticas e econômicas. Cannabrava detinha muita propriedade para falar dos diversos processos políticos que países como Bolívia, Peru, Cuba, Argentina, Nicarágua, Panamá e Brasil estavam vivendo, já que durante todos esses anos ele viveu em cada país, experimentando cada aventura relatada na obra.


Entre as tomadas de poder da esquerda e da direita latino-americana, o autor viveu perigosamente, trabalhando sempre como jornalista em veículos que cobriam os acontecimentos, preferencialmente com viés esquerdista e, sempre que possível, militava nas causas socialistas e comunistas, juntamente aos chamados revolucionários que eram filiados aos partidos dessa linha ideológica.


Histórias marcantes de líderes políticos, como Omar Torrijos do Panamá, com quem tinha profunda amizade, e de encontros com personagens como Che Guevara, fazem com que a temática do livro seja extremamente interessante, além de todo o teor histórico que ele carrega. Contudo, todo o teor ideológico esquerdista se faz presente no livro, o que o torna cansativo, principalmente para quem não têm interesse nem afinidade com esse tipo de pensamento.


Claro que o autor tem todo o direito de se expressar como pensa e como sentiu cada experiência, e isso é muito importante para as conclusões que podemos tirar dessa obra. A primeira delas é que não existe imparcialidade no jornalismo. O que existem são jornalistas militantes, tanto de esquerda quanto de direita, e quem tiver o maior poder de persuasão é que fará a população escolher qual tipo de governo estará no poder.


A segunda conclusão, e talvez a mais intrigante, seja a forma como o autor expressa cada ação da esquerda ou da direita, seja do lado político, seja do lado jornalístico. Enquanto as atitudes dos esquerdistas eram sempre revolucionárias e tidas como heróicas, e os governos esquerdistas aparentavam ser sempre perfeitos, já que buscavam reformas para melhorias nos diversos âmbitos da sociedade, a direita era sempre tida como repressora, contrária ao desenvolvimento do país, assassina e aliada aos interesses dos EUA, que são sempre ruins e opressores. Ele mesmo, em um dos capítulos que fala sobre o processo político do Peru, afirma que trabalhou no jornal Expreso, que era porta-voz do governo Velasco, esquerdista, enquanto os demais jornais do país eram ligados à oligarquias e defendiam interesses capitalistas e estadunidenses. Em nenhum momento do livro foi citado que um jornal “de direita” fazia críticas ao governo, mas percebemos que a forma que foi narrado dá a entender que esse tipo de jornalismo até fazia perseguições aos que pensam de forma contrária. Enquanto isso, os veículos com viés esquerdistas eram apenas críticos quanto aos governos da direita e lutavam por uma sociedade mais justa e igualitária. Óbvio que, se fosse um conservador que estivesse narrando os fatos, com certeza o viés seria completamente inverso, tornando a esquerda como vilã da história, enquanto a direita tenta salvar o mundo. Tudo depende do ponto de vista de quem escreve.


Contudo, não era de se esperar menos de um autor que contribuiu para o desenvolvimento de cartilhas ideológicas, músicas e poemas que doutrinam sobre a ideologia socialista e comunista. Quanto a isso, ele com certeza foi muito eficaz em sua forma de trabalhar e expressar suas impressões sobre o que viveu. Um dos pontos mais interessantes sobre isso é ver que o autor não se deixou levar pelo extremismo, e sua preferência sempre foi persuadir por meio das palavras, das ideias e da comunicação, e nunca por meio das armas.


Indo além dessas questões, é humanamente impossível não se envolver com a situação que Cannabrava viveu em cada um dos países mencionados no livro. As perseguições que ele viveu, as situações de perigo no Brasil e em cada momento em que havia uma virada de poder, as diversas vezes em que teve de se separar de sua esposa e seus filhos para se aventurar em busca de um novo país para viver, trabalhar e militar, a beleza do companheirismo entre ele e a esposa Bia, que perseguia os mesmos ideais que ele, as amizades que foram feitas e perdidas tragicamente no meio do caminho. Cada uma delas toca o coração humano e demonstra sim uma sensibilidade e uma demonstração de valores que muitos julgam que uma pessoa que viva uma linha ideológica revolucionária não possua.




Resumindo, é um livro extremamente interessante do ponto de vista histórico. Intrigante do ponto de vista ideológico. E emocionante do ponto de vista humano.


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A dona do blog




Andressa Soriano, 27 anos, São Paulo SP - Brasil.
Cristã, casada, formada em Jornalismo. Apaixonada pela Palavra de Deus, por livros, músicas, pela arte de escrever e criar conteúdo, pelo idioma espanhol.
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