Três da tarde, na linha azul do metrô, Noemi estava em pé, equilibrando-se enquanto o trem andava. Um senhor discutia com um policial por um motivo desconhecido, mas se notava que o senhor estava querendo chamar atenção. De supetão, surge um som de violino tocado por um moço de cabelos até os ombros, que tocou desde tango até Brasileirinho, passando por Roberto Carlos e músicas clássicas. No fim da apresentação, grande parte dos passageiros aplaudiram. O moço discursou algo que Noemi não fez nem questão de prestar atenção, pois já sabia que era apenas uma introdução antes de tirar um saco de pano do bolso para pedir dinheiro "pela arte".
Noemi não suportava aquilo. Pessoas que pediam dinheiro, ou vendiam alguma coisa qualquer, no metrô e nos ônibus. Ela presenciara a mesma coisa na linha vermelha: dois rapazes que vendiam balas. Todos sabem que é proibido e ela fazia de tudo para não compactuar com o erro alheio, mas algo dentro dela pedia para que ela fizesse alguma coisa, desse alguma ajuda.
Não, não, não. Ela não tinha dinheiro nenhum, não tinha como ajudar. Tudo isso durou cerca de dois minutos. O moço dos cabelos nos ombros desceu uma estação antes dela. Tudo isso durou cerca de dez minutos, até que ela concluiu mais uma parte do seu trajeto.
Desceu na estação de metrô perto da sua casa. Subiu as escadas rolantes com sede de chegar em casa, se jogar no sofá, comer e fazer suas atividades antes de tomar banho e sair para a faculdade. Chuva. Ou melhor, tempestade. Noemi teve que ficar alguns minutos à espera dela passar, coisa que não gostava nem um pouquinho. Era muito impaciente, detestava esperar por muito tempo num mesmo lugar, principalmente se não tivesse nada para fazer, nem lugar nenhum para se sentar. E era a sua situação.
Na primeira oportunidade, Noemi saiu da estação ainda com chuva (apesar de um pouco mais fraca). Só que a chuva aumentou novamente, e ela teve que ficar esperando num local coberto. Ela não gostava de chuvas fortes daquele jeito. Não quando está na rua, correndo risco de se encharcar toda se teimasse em voltar para casa debaixo de chuva e tudo. E foi o que a maluca fez, sem se importar em toda a água que entraria em seus tênis pretos, que molhariam sua calça limpinha e sua blusa que era a única que lhe garantia um pouco de calor no meio da fria ventania.
Pânico. A tempestade foi aumentando. Pedras de gelo caíam do céu junto com a água líquida. Granizo, muito comum em São Paulo. Noemi foi ficando com a respiração cada vez mais ofegante, as águas torrenciais molhavam seu rosto redondo e seus cabelos negros. Sofrimento que durou exatamente seis minutos, que foi quando ela entrou em casa correndo direto para o banheiro, para tirar aquela roupa molhada antes que acabasse ficando doente. Tomou um banho morno e foi tomar um café quentinho e assistir TV ainda dentro do roupão.
A chuva passou.
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