A Menina do Metrô

Lá estava ela, uma garota com seu livro, sentada no banco do metrô, ao lado da porta. Naquele dia estava lendo "Memórias Póstumas de Brás Cubas"; notava-se no código que havia na capa que pertencia a uma biblioteca pública.

Todos os dias ela estava ali no mesmo horário: sete da manhã. Sua idade eu não sei, aparentava ser uma adolescente de 15 ou 16 anos, seu rosto não tinha espinhas, ela não usava óculos e tinha um estilo básico (jeans e uma blusa simples) de se vestir. Haviam apenas dois detalhes que chamavam a atenção: as botas (com as quais ela sempre estava, principalmente no inverno) e o livro em mãos, que cada semana era diferente.

Habituada nessa rotina, a menina do metrô era, sem perceber, atração no meu dia. Cheia de mistérios: não andava com mochila, bolsa, nada do tipo. Quando eu entrava no vagão, ela já estava lá; quando chegava minha estação, ela prosseguia viagem. Sei que já vi de tudo em suas mãos: romances policiais, clássicos da literatura, sagas da moda, ficção científica, utopias, livros de auto-ajuda, etc. Não sei dizer de quais ela gostou ou não, sua expressão era a mesma, tranquila e atenta. Impossível decifrar qualquer coisa acerca da identidade daquela garota.

Um belo dia tentei falar com ela. Minha voz demorou a sair, enquanto eu ensaiava mentalmente o que dizer. Reparei que seus olhos eram claros, verdes, lindos. Olhei o livro, estava naquele capítulo cheio de pontos. Perdi a coragem quando ela desviou o olhar do livro para mim, como que perguntando "quem é você?" ou "o que vês em mim?".

Desci na estação seguinte, pois sem perceber, já havia feito o meu costumeiro trajeto. Ela? Continuou no banco ao lado da porta, lendo docemente o seu livro.