Sem Graça...
(Leia ouvindo esta música)
Olhares cruzados e paixões momentâneas sempre foram rotina na vida do chamado cafajeste. Ele mesmo se chamava assim, e se orgulhava disso. Mulher nenhuma prendia ele. Sentimentos? Que nada… foi só a emoção na hora do sexo. Coisa de pele, de momento. Nada sério. Eduardo o nome dele, mas para cada mulher que passava pela sua cama, ele inventava um nome diferente. Homem atraente, bonito, estiloso e perfumado, com bom papo, qual mulher resistiria, não é?
Num desses rolês da vida, seu caminho cruzou com o dela. Bia era como queria que ele a chamasse. Cabelos longos e ondulados, corpo de sereia, olhos azuis de felina. O tipo de mulher que ele gostava transar. Cara de pau, chegou junto e puxou assunto. Ele se sentiu atraído, ela também. Que mal tem? Ele já tinha bebido consideravelmente, ela não. A noite foi boa para ele. Acordou e a observou dormir. Ele sabia que não era de seu feitio deixar alguém dormir em sua cama até o dia seguinte. Mas o que tinha nela? Uma certa ternura nascia em seu coração, ao ver aquele rosto angelical em paz.
Deixa ela dormir, ele pensou. Enquanto isso vou compor meus raps.
Foi buscar o notebook, colocá-lo para carregar em cima da mesa da cozinha, e sentou-se na cadeira. Enquanto o Windows iniciava, ele sentiu alguém o observando. Era ela, sentada no braço do sofá, com cara de apaixonada, querendo falar de amor. Dentro dele também estava nascendo um sentimento que ele nunca havia experimentado, mas veio o medo de perder toda a fama, todos os "contatinhos", toda uma vida que o deixava estável e acomodado. Já estava acostumado.
Bia começou a fazer perguntas, tentando arrancar alguma declaração de amor. O ego do Eduardo falou mais alto, nem sequer um elogio a ela ele fez. Mesmo sem palavras, ele já conseguiu machucá-la.
“Era só sexo, não é?”
“É isso, nosso sexo só vai durar se nunca tivermos compromisso”.
Mas sexo sem compromisso não era o forte dela. Se entregar sempre tem efeito colateral. Os sentimentos afloram, desculpa, vou embora.
Com um nó na garganta, uma lágrima pesada que ela relutava em deixar cair e uma grande melancolia, virou as costas, vestiu-se e saiu do apartamento. Eduardo também estava sentindo um nó na garganta, e foi até a janela, sem graça, para vê-la partir.