Papel amassado

Enzo era um estudante universitário que não costumava se importar muito com os estudos. Era uma sexta-feira a noite, e no horário da aula ele estava num barzinho ali próximo da faculdade dele, tomando uma cerveja com seu amigo Guilherme. Os dois gostavam de conversar sobre suas aventuras sexuais e sobre suas aulas de publicidade e propaganda.

Na mesa ao lado, havia uma garota que eles desconheciam, totalmente concentrada em seu laptop e em seus livros sobre a mesa e tomando um café. Ela usava óculos, tinha os cabelos escuros presos com uma caneta, e usava um moletom cinza. Era inverno em São Paulo, e garoava na rua.

Naquele momento, Enzo decidiu apostar com seu amigo que conseguiria sair com aquela garota. “Aposto uma cerveja que não consegue”, disse Guilherme, dando risada. “Ela é muito nerd para largar os livros e sair com você!”

“Cara, ninguém resiste ao meu charme e à minha pinta de Justin Bieber”, se gabou Enzo. Levantou-se e se dirigiu à mesa da garota.

“Oi, tudo bem?”, disse. Ela não respondeu. Ele então a tocou no braço, e ela o olhou. “Oi, tudo bem?”

A garota ficou olhando para os lábios dele enquanto falava, e então respondeu: “Tudo, e você?”

“Tudo ótimo. Estava te olhando ali da outra mesa e te achei muito bonita. Queria te conhecer”, falou Enzo. Ela não parava de observar seus lábios enquanto ele falava.

“Meu nome é Enzo, e o seu qual é?”, e ela não desgrudava os olhos de seus lábios. Para Enzo, era óbvio que ela estava com vontade de beijá-lo.

“Meu nome é Amanda”, respondeu a garota, agora olhando em seus olhos, mas sem nenhum vestígio do desejo que ela demonstrava quando olhava em seus lábios. Mas Guilherme foi o único que percebeu o que estava acontecendo.

“Desculpa Enzo, mas eu tenho que ir agora, vou pegar o trem para ir para casa, se não vou acabar chegando muito tarde”, disse Amanda, recolhendo suas coisas, sem olhar mais em seu rosto.

“Mas você pode pelo menos me dar seu telefone, para continuarmos conversando?” 
Mas ela não respondeu. “Amanda, por favor, você parece ser muito legal, quero continuar conversando com você”. E ela o ignorava.

Então, Enzo xingou a garota que já não estava olhando em seu rosto, e saiu de perto dela, voltando para a mesa onde Guilherme estava sentado. “E aí, garotão? Conseguiu conquistar a nerdinha?”

“Nada, ela nem me deu bola, aquela vadia”, respondeu Enzo. “Olhava pra minha boca querendo me beijar, mas ficou se fazendo de difícil”.

“Sério, cara?” disse Guilherme, gargalhando. “Mano, aquela menina é surda, você não percebeu?”

“Como assim, velho?”, indagou Enzo, surpreso.

“Mas é claro, ela não te ouviu quando você a chamou da primeira vez, você precisou tocar o braço dela para que ela percebesse que você estava falando com ela. Quando você falava, ela prestava atenção nos movimentos dos seus lábios para conseguir entender, e você xingou a garota bem alto, todo mundo ouviu e ela nem te olhou”, explicou Guilherme. “Grande pegador…” falou rindo.

Enzo então chamou o garçom e pediu a cerveja da aposta que perdeu, pensando constrangido no mico que pagou. Mas ninguém reparou no papel amassado que Amanda havia deixado em cima da mesa, com o número de telefone dela, deixado ali de propósito.

CONVERSATION

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A dona do blog




Andressa Soriano, 28 anos, São Paulo SP - Brasil.
Cristã, casada, formada em Jornalismo. Apaixonada pela Palavra de Deus, por livros, músicas, pela arte de escrever e criar conteúdo, pelo idioma espanhol.
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